Carnaval
para mim representa brincadeira, risos, criatividade e liberdade. A liberdade
de podermos ser as personagens que nos apetecer sem sermos apelidados de loucos
(se bem que isso nem me preocupa assim tanto).
Em retrospectiva,
dou por mim a pensar que a fantasia que me encaixa na perfeição (para além de
palhaça) é a de bruxa. E é aquela de que mais me mascarei até hoje. A bem ver,
esta já está na minha essência só não uso as vestes típicas e o chapéu de bico no
meu dia-a-dia.
Se ter
uma intuição mais afinava é ser bruxa, então eu sou.
Se
gostar das mezinhas que a natureza nos dá é ser bruxa, então eu sou.
Se
procurar respostas nas cartas é ser bruxa, então eu sou.
Se ler
o perfil astrológico das pessoas é ser bruxa, então eu sou.
Vendo bem,
o ser bruxa está-me no ADN. Tenho uma mãe que é cartomante. À minha avó
paterna, que não sei bem até onde iam os seus conhecimentos nestas artes,
cheguei a ver, ainda eu era criança, aplicar ventosas nas costas da minha tia
para lhe tirar dores. Isto foi uma coisa que sempre me suscitou curiosidade. Onde
terá ela aprendido a técnica? Tendo em conta que era analfabeta… Nem o nome
dela sabia escrever. E não eram uns copinhos quaisquer não senhor. Tinha as
ventosas como devem ser, lembro-me muito bem. Também a vi a cortar o quebranto,
ou lá o que era, num pau de figueira. Se isto não é ser bruxa, então não sei o
que seja.
E depois
havia a minha avó materna, que morreu jovem com um bebé no ventre e dizem que
era santa, pela maneira de ser e porque o corpo se manteve intacto durante
todos os anos em que permaneceu debaixo da terra. Às tantas cansaram-se de a
manter enterrada e levaram-na sabe-se lá para onde, já que a terra a devolvia
sempre como tinha sido lá posta. À minha mãe recusaram-se a dar explicações
alegando não haver registo. Há quem diga que a levaram para uma igreja. Só
perguntas sem resposta, mas de uma coisa tenho a certeza, havia ali qualquer
coisa fora do comum naquela minha antepassada.
Numa
leitura da aura foram-me descritas algumas vidas antes desta e era sempre
alguém que fazia uso de mezinhas e da magia, ou com conhecimentos fora do tempo
e do habitual. Pelos vistos, está-me no sangue e na alma.
Bem, vivêssemos
nós há uns séculos atrás e eu a esta hora já estava na fogueira.
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