outubro 12, 2020

A (talvez) possível e inesperada mudança de casa

 















Dizem que não há amor como o primeiro, mas não é bem assim. Eu apaixono-me por cada nova casa que vamos ver. E não é uma paixoneta qualquer. É daquelas de tirar até o sono. O primeiro amor, uma pequena vivenda anos 70/80, no alto de uma rua em espaço aberto e amplo, deixou-me a sonhar com os possíveis jardins envolventes que lá iria construir. Muita dança da chuva teríamos nós de fazer, porque ao preço que está o metro da água e demais contas para terceiros e afins, só se for um jardim de cactos no meio do deserto.

 

A segunda paixão e que dura até ao dia de hoje, (tenho um coração grande, posso apaixonar-me por vários amores ao mesmo tempo eheheheh), encheu-me as medidas, os sentidos e a alma. A casinha (tem dois pisos, mas é uma casinha mesmo assim), encostada à linha que nos separa do vizinho de trás. Um jardim (ou vislumbre dele) à frente para nos receber e a quem passa. De um lado, uma “floresta” de citrinos onde me imagino a percorrer caminhos feitos da cor de tijolo e ladeados por malmequeres e flores de todas as cores. Do outro lado a horta. Aquele rectângulo de terra que nos iria encher o prato (e mais à família toda) e preencher as horas vagas e mais aquelas que queremos ter para ir conhecer o mundo fora de portas. Se há mundo encantado, está ali, mesmo à mão de semear e tão ao meu alcance (assim os deuses queiram e nos encaminhem nesse sentido). Tem lá mais um apêndice (de terra) a querer obrigar-nos a ser agricultores à força, mas isso agora também não interessa para nada.

 

(Para quem há uns tempos queria trocar a casa por uma autocaravana para se fazer à estrada e ao mundo, agora só encontra pedaços de terra enormes onde cravar e criar raízes bem fortes… E que eu pensava difíceis de arrancar de onde estamos e vivemos as últimas 3 décadas, mas a capacidade de sonhar é grande...)

 

E não é que surge um terceiro amor, uma pequena e bonita vivenda, de construção recente, rodeada de relva e sítios para flores, de onde posso ver quem passa, mesmo como eu andava à procura. E ainda tem espaço suficiente para reunir a família toda. E a horta. Essa, seja onde for, vai estar sempre lá à nossa espera e das nossas árvores tropicais. Eu disse que não a ia ver com olhos de apego. Não queria. Mas vi. E senti-me em casa, mesmo sendo a casa de alguém. Branca e luminosa com tudo o que é preciso. Eu sei que ali íamos ser felizes.

 

Mas como o número que mais me acompanha nos mais diversos acontecimentos é o 4, surge uma quarta proposta que nos deixou a pensar. Não é nada do que eu queria (ou quase nada), mas já me fez sonhar bastante. É um mundo fechado entre quatro muros (e paredes), mas até que podia ser o meu mundo vendo bem as coisas de outro ângulo. É a mais trabalhosa de início e uma carta fechada. Não foi uma paixão assolapada à primeira vista, mas pode ser um amor forte e seguro para ir amando a cada transformação.

 

As 4 fizeram o meu coração vibrar, e só espero que não apareça mais nenhuma porque a continuar, a escolha torna-se cada vez mais difícil. Assim eu tivesse várias vidas, tantas quantas as possibilidades que se nos apresentam. E ainda sobrava uma vida para gastar numa casinha qualquer na rua de Óbidos. Naquela rua que eu gosto tanto de calcorrear para um lado e para o outro. É a rua. A única.


💜