Na minha
frente tinha uma paisagem lindíssima. Lá ao fundo, mais abaixo, podia-se ver o
mar sem ondas a banhar uma pequena margem de pedras ou areia endurecida em vez
dos típicos extensos areais das nossas praias, orlada por uma zona verde. Tinha
comigo a minha máquina fotográfica (é sempre assim nos meus sonhos quando o
cenário é uma paisagem linda, exótica e inesquecível). Também se repete o
padrão do não chegar a fotografar, ou de ser confrontada com algum impedimento
para tal. Desta vez não houve impedimento, eu é que me perdi um pouco na
contemplação e exploração da zona envolvente. A minha filha desceu à praia e
voltou a subir a encosta, acompanhada por outra jovem que conheceu lá. Começou
a entardecer e eu sabia que estava a ficar tarde e precisava voltar, mas o
momento era o ideal para tirar umas boas fotografias com toda aquela luz de
pôr-do-sol. No caminho passei por uma casa (havias pouquíssimas naquela zona).
Algumas pessoas entravam e saíam e eu fiz o mesmo. A casa térrea era pequena,
de construção antiga, rectangular, um misto de pedra com madeira. Estava mobilada
num estilo meio provençal rústico, meio boémio chic. Tinha umas janelas envidraçadas
grandes. Fui espreitar e vi uma curva da praia cercada de árvores. De outra
janela a água era mais extensa, parada, que mais parecia uma lagoa. Senti que
podia viver ali. Sentia-me em casa.
Dirigi-me
à dona da habitação, que se encontrava de volta de uns papéis, talvez relacionados
com a compra da mesma. Tentou ocultar de mim o que lá estava escrito, mas
percebi que eram antigos e vislumbrei algures numa página o símbolo do nosso “cifrão”.
Perguntei-lhe se queria vender e ela respondeu que estava a pensar nisso… Falou
em algo que me pareceu serem uns 84 mil e tantos euros (esqueci os números
miúdos)… Achei até em conta para a zona.
Voltei a
sair da casa e dei comigo acompanhada por um rapaz que me foi mostrar uma
lagoa. Já não era a mesma parte de mar. Era uma lagoa a sério (ou parecia), num terreno agora
mais plano, mas perto de onde tinha estado antes. Era tudo perto. À volta tinha
arbustos e árvores e a água na margem deixava ver o fundo. Até aqui pensei
estar em Portugal. Todos à minha volta falavam em português. Até que o rapaz me
disse o nome da terra…Qualquer coisa que me esqueci, seguida de algo parecido
com “Ildefrance” ou “Ildefrench”. Disse-o de uma forma melodiosa, cantada e eu
achei piada. Só aí percebi que estava em França. Acordei.
A sensação
dentro do sonho foi muito boa, feliz. Ao acordar senti-me eufórica e não
resisti em procurar no Google se existe alguma terra assim.
Descobri
que em tempos houve uma província chamada de Île-de-France, habitada por uma
tribo de celtas uns séculos antes de Cristo e que deu origem à actual Paris.
Faz sentido. Nunca lá fui mas gostava e digo muitas vezes que devo lá ter
vivido noutra vida. Mas, não tem mar e o rio Sena não tem nada a ver com as
imagens do meu sonho.
Continuei a procurar e para meu espanto encontrei uma ilha, Île de Bréhat... Brehat, uma
ilha de França… Em Francês, Île-de-France. Bem pode ser a “Ildefrance” do meu
sonho. O mar em tudo muito semelhante ao mar do meu sonho, assim como a
paisagem…
Pensei que
tinha de contar ao marido, não o próximo, mas o nosso destino de algum dia, mas
estava com pressa para tratar do almoço… E nesse momento o telemóvel tocou!
Depois de
ouvir o meu sonho e a minha descoberta e de lhe acrescentar que fica no norte
de França, do outro lado só ouvi uma gargalhada e um:
- Achas
mesmo que vou para o frio? Vai lá mas é tratar do almoço para a miúda!
FIM
Ele é
friorento. Nasceu e cresceu numa ilha com temperatura amena o ano todo. Teve
até alguma dificuldade em se adaptar aos Invernos mais rigorosos da região
interior continental. O frio também é inimigo das minhas hérnias e nervo ciático,
mas mesmo assim continuo em estado de euforia.
Diria
mesmo, que a euforia da descoberta vai durar enquanto durar a recordação do meu
sonho…
Alguém
aí, entre os meus queridos leitores e leitoras que conheça esta região que esta
noite (mais precisamente manhã), povoou os meus sonhos?
Fonte da imagem: Flickr
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