A tarde de
ontem foi passada na oficina a dar andamento a uma velharia e a produzir uma
pequena porta para o jardim das fadas. Arrastei o marido comigo, é que há
coisas que ainda não arrisco e uma delas é a usar a serra eléctrica. E
convenhamos que trabalhar com companhia é outra história! E duas cabeças pensam
mais que uma.
Trabalhar
numa Sexta-feira Santa? Os meus antepassados devem andar às voltas lá onde se
encontram, incrédulos com tamanha imprudência. No tempo deles, (nas zonas
rurais pelo menos), os meios dias santos eram sagrados. Faziam tudo o que havia
a fazer na manhã de Quinta e depois do meio-dia já ninguém mexia uma palha.
Jejuava-se (ou pelos menos não se comia carne). As mulheres sentavam-se no lado
de fora das casas com as suas orações. Os homens não faço ideia. Havia um
enorme temor pelo castigo divino. De geração em geração transmitiam-se estas
tradições e algumas lendas sobre quem desrespeitou o “Senhor”, como o caso de
certa mulher que foi caiar a casa e na parede escorreu sangue. Dizem (ou
diziam) que era o sangue de Cristo. Sexta à tarde a vida voltava à normalidade
(ufa, estou safa!).
Por
conveniência juntaram-se os dois meios-dias santos num só e passámos a ter o
feriado num dia inteiro. Fazia lá algum sentido ir trabalhar só meio dia ali
pelo meio quando se pode ter um fim-de-semana prolongado! ;)
Aqui tudo
se aproveita. As paletes da vedação da horta serviram para fazer um tampo
reforço do móvel (depois conto-vos a sua história e para que vai servir) e para
fazer a portinha das fadas.
A minha
criança interior gosta tanto destas coisas. Na porta estão as memórias e a energia da minha infância, naquele puxador que foi parafuso de um banco da carrinha de
caixa aberta do meu pai, onde ele transportava os trabalhadores. Hoje as ripas
de madeira são outras, mas os pés do banco ainda cá moram e fazem parte do meu
jardim.
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