julho 16, 2016

"Exit" traiçoeiro



Segui a placa aérea que dizia Toilet e meti-me num WC duvidoso. Mal sinalizado, e não fosse ter nas portas os bonecos para senhoras, homens e pessoas com capacidades motoras reduzidas, poderia pensar-se que seriam só de serviço para os funcionários. Na volta, perdi a conta às portas por onde antes tinha passado e distraída virei para o lado errado, (mal) orientada pela placa de “Exit”. 

Esbarrei numa porta que supostamente seria a da saída. Por alguns segundos ainda hesitei, mas num impulso abri-a e empurrei-a. Impulso do qual me arrependi amargamente. Já do outro lado, percebi que me tinha enganado na saída, mas a tentativa de voltar atrás saiu-me furada, porque a porta estava trancada. Só abria num sentido. O meu coração disparou. E agora?! Respirei fundo e procurei não entrar em pânico. Estava sozinha e sem telemóvel para poder comunicar com a minha filha que se encontrava no interior da livraria com a minha mãe e o meu sobrinho de 5 anos. Olhei à volta. Nada que se parecesse com um botão de alarme que pudesse carregar para avisar que estava ali fechada. Que vergonha, o melhor era tentar desenvencilhar-me sozinha. Ganhei uma energia extra e meti-me por ali a dentro, corredor atrás de corredor. Porta atrás de porta. Os corredores tornaram-se labirínticos e por vezes tinha que decidir-me por qual ir. Senti-me numa espécie de roleta russa a tentar a sorte e com o coração a mil cada vez que empurrava a próxima porta. E se não abrisse? O edifício estava prestes a fechar e eu só pensava em como iria sair dali e na aflição daqueles que me esperavam algures lá fora sem saber onde me procurar. E se eu ficasse ali trancada? Será que alguém iria encontrar-me? Imagino que não passava ali ninguém há séculos. Os corredores foram ficando cada vez mais sombrios e sujos. As paredes com pior aparência e a tinta deu lugar ao cimento despido de qualquer acabamento. Escadas. Muitos degraus em direção a parte incerta. Senti-me a descer aos infernos, qual Perséfone no Reino de Hades. Só faltou dar de caras com Cérbero, o monstro das três cabeças que guarda o submundo. O que me vale, é que a aflição dá-me asas aos pés e depois de longos minutos que me pareceram uma eternidade, surgiu a luz ao fundo do túnel e pude finalmente respirar de alívio. Mas agora encontrava-me noutro dilema. Onde estava eu? Depois dos últimos degraus a rua, uma rua que nunca tinha visto antes, numa zona desconhecida e de aspecto sinistro (pelo menos aos meus olhos). Preparei mentalmente um discurso incoerente num inglês abaixo do medíocre, mas por azar (ou sorte) não havia ninguém nas proximidades. Dei a volta ao edifício de paredes em tijolo, na rua curva, mas voltei ao ponto de partida. Nem um ponto de referência a que me agarrar. Sem dinheiro, sem passe, sem nada para poder voltar a casa. Comigo levava unicamente a máquina fotográfica ao pescoço. Vá lá não me ter ocorrido fotografar os subterrâneos de um centro comercial inglês!

Pensa, dizia o meu alter ego! E o meu cérebro mais uma vez tomou a rédea da situação. Um pouco para a esquerda, do outro lado da rua, vislumbrei uma escada. Se desci tinha que subir. Depressa galguei os longos e largos degraus dos vários lances de escada, com a altura de uns três ou quatro andares que me separavam da estrada que passava lá em cima. Ufa! Era a rua larga e movimentada por onde tínhamos entrado. Desci e voltei a subir a rua à procura da entrada para a livraria. Senti-me momentaneamente desorientada. E lá estava a minha mãe com ar sério, do outro lado, que nem sentinela a guardar a entrada por onde eu deveria sair. Por momentos, senti-me pequenina e à espera do raspanete. 

Com as mãos sujas, a cabeça ainda zonza e o ego ferido, entrei no autocarro para aquela que seria a minha última viagem de férias, nos transportes públicos da cidade. E que bem que me soube aquele regresso a casa!









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