Segui a placa aérea que
dizia Toilet e meti-me num WC
duvidoso. Mal sinalizado, e não fosse ter nas portas os bonecos para senhoras,
homens e pessoas com capacidades motoras reduzidas, poderia pensar-se que
seriam só de serviço para os funcionários. Na volta, perdi a conta às portas
por onde antes tinha passado e distraída virei para o lado errado, (mal)
orientada pela placa de “Exit”.
Esbarrei numa porta que
supostamente seria a da saída. Por alguns segundos ainda hesitei, mas num
impulso abri-a e empurrei-a. Impulso do qual me arrependi amargamente. Já do
outro lado, percebi que me tinha enganado na saída, mas a tentativa de voltar
atrás saiu-me furada, porque a porta estava trancada. Só abria num sentido. O
meu coração disparou. E agora?! Respirei fundo e procurei não entrar em pânico.
Estava sozinha e sem telemóvel para poder comunicar com a minha filha que se
encontrava no interior da livraria com a minha mãe e o meu sobrinho de 5 anos.
Olhei à volta. Nada que se parecesse com um botão de alarme que pudesse
carregar para avisar que estava ali fechada. Que vergonha, o melhor era tentar
desenvencilhar-me sozinha. Ganhei uma energia extra e meti-me por ali a dentro,
corredor atrás de corredor. Porta atrás de porta. Os corredores tornaram-se
labirínticos e por vezes tinha que decidir-me por qual ir. Senti-me numa
espécie de roleta russa a tentar a sorte e com o coração a mil cada vez que
empurrava a próxima porta. E se não abrisse? O edifício estava prestes a fechar
e eu só pensava em como iria sair dali e na aflição daqueles que me esperavam algures
lá fora sem saber onde me procurar. E se eu ficasse ali trancada? Será que
alguém iria encontrar-me? Imagino que não passava ali ninguém há séculos. Os
corredores foram ficando cada vez mais sombrios e sujos. As paredes com pior
aparência e a tinta deu lugar ao cimento despido de qualquer acabamento. Escadas.
Muitos degraus em direção a parte incerta. Senti-me a descer aos infernos, qual
Perséfone no Reino de Hades. Só faltou dar de caras com Cérbero, o monstro das
três cabeças que guarda o submundo. O que me vale, é que a aflição dá-me asas aos pés e depois de
longos minutos que me pareceram uma eternidade, surgiu a luz ao fundo do túnel
e pude finalmente respirar de alívio. Mas agora encontrava-me noutro dilema. Onde
estava eu? Depois dos últimos degraus a rua, uma rua que nunca tinha visto
antes, numa zona desconhecida e de aspecto sinistro (pelo menos aos meus
olhos). Preparei mentalmente um discurso incoerente num inglês abaixo do
medíocre, mas por azar (ou sorte) não havia ninguém nas proximidades. Dei a
volta ao edifício de paredes em tijolo, na rua curva, mas voltei ao ponto de
partida. Nem um ponto de referência a que me agarrar. Sem dinheiro, sem passe,
sem nada para poder voltar a casa. Comigo levava unicamente a máquina
fotográfica ao pescoço. Vá lá não me ter ocorrido fotografar os subterrâneos de
um centro comercial inglês!
Pensa,
dizia o meu alter ego! E o meu cérebro mais uma vez tomou a rédea da situação.
Um pouco para a esquerda, do outro lado da rua, vislumbrei uma escada. Se desci
tinha que subir. Depressa galguei os longos e largos degraus dos vários lances
de escada, com a altura de uns três ou quatro andares que me separavam da
estrada que passava lá em cima. Ufa! Era a rua larga e movimentada por onde
tínhamos entrado. Desci e voltei a subir a rua à procura da entrada para a
livraria. Senti-me momentaneamente desorientada. E lá estava a minha mãe com ar
sério, do outro lado, que nem sentinela a guardar a entrada por onde eu deveria
sair. Por momentos, senti-me pequenina e à espera do raspanete.
Com as
mãos sujas, a cabeça ainda zonza e o ego ferido, entrei no autocarro para
aquela que seria a minha última viagem de férias, nos transportes públicos da
cidade. E que bem que me soube aquele regresso a casa!
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