abril 20, 2019

A Sexta-feira Santa na oficina



A tarde de ontem foi passada na oficina a dar andamento a uma velharia e a produzir uma pequena porta para o jardim das fadas. Arrastei o marido comigo, é que há coisas que ainda não arrisco e uma delas é a usar a serra eléctrica. E convenhamos que trabalhar com companhia é outra história! E duas cabeças pensam mais que uma.

Trabalhar numa Sexta-feira Santa? Os meus antepassados devem andar às voltas lá onde se encontram, incrédulos com tamanha imprudência. No tempo deles, (nas zonas rurais pelo menos), os meios dias santos eram sagrados. Faziam tudo o que havia a fazer na manhã de Quinta e depois do meio-dia já ninguém mexia uma palha. Jejuava-se (ou pelos menos não se comia carne). As mulheres sentavam-se no lado de fora das casas com as suas orações. Os homens não faço ideia. Havia um enorme temor pelo castigo divino. De geração em geração transmitiam-se estas tradições e algumas lendas sobre quem desrespeitou o “Senhor”, como o caso de certa mulher que foi caiar a casa e na parede escorreu sangue. Dizem (ou diziam) que era o sangue de Cristo. Sexta à tarde a vida voltava à normalidade (ufa, estou safa!).

Por conveniência juntaram-se os dois meios-dias santos num só e passámos a ter o feriado num dia inteiro. Fazia lá algum sentido ir trabalhar só meio dia ali pelo meio quando se pode ter um fim-de-semana prolongado! ;)



Aqui tudo se aproveita. As paletes da vedação da horta serviram para fazer um tampo reforço do móvel (depois conto-vos a sua história e para que vai servir) e para fazer a portinha das fadas. 

A minha criança interior gosta tanto destas coisas. Na porta estão as memórias e a energia da minha infância, naquele puxador que foi parafuso de um banco da carrinha de caixa aberta do meu pai, onde ele transportava os trabalhadores. Hoje as ripas de madeira são outras, mas os pés do banco ainda cá moram e fazem parte do meu jardim.  




Ps. para quem não sabe o que é caiar, é o acto de pintar, mas com cal, uma forma mais barata de pôr as paredes brancas.


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